sexta-feira, 9 de maio de 2014

Dogen Zenji

"Aqueles que veem a vida mundana como um obstáculo ao Darma não veem o Darma nas ações do dia a dia. Eles ainda não descobriram que não existem ações do dia a dia fora do Darma." (Dogen Zenji, 1200-1253)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Budismo no Brasil versão atual


BUDISMO NO BRASIL, VERSÃO ATUAL


 O ano que se encerrou foi um período de efervescência no cenário nacional, ao qual naturalmente o budismo brasileiro está inserido. Até por sua predominante omissão, mas está, queiramos ou não, fez e faz parte dele.

 Os centavos que viraram milhões foram às ruas. Consciente ou inconsciente, o Brasil se manifestou. Bem ou mal, mostrou a sua indignação diante de tantos desmandos, de tantas corrupções, de tantos escândalos, de tantas injustiças sociais, de tantas impunidades e julgamentos pífios. O Judiciário brasileiro, um dos tripés dos poderes constituídos da República Federativa do Brasil, ficou com as "nádegas de fora", como poderia dizer Jânio Quadros a respeito. Assim como, colocados contra a parede, o Legislativo e o Executivo, pelos milhões de brasileiros que gritaram um "basta" à toda esbórnia com a coisa pública, que disseram um "não mais" à toda pândega com os interesses de uma população sofrida, explorada, manipulada. 

 Não obstante, não conseguimos ainda uma ampla, geral e imprescindível reforma política de iniciativa popular. E sem mais mobilização, jamais sairá. Fácil entender que não há interesse das Casas legislativas se autodisciplinarem e tampouco o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, com reflexos à ordenação orgânica da vida nacional.

 A qualidade de um governo sempre espelhará a qualidade da cidadania de um povo. Só existirá governo bom quando houver cidadania boa. Só existirá governo honesto quando houver cidadania honesta. Sem surpresas. O inverso é rigorosamente verdadeiro. Pessoas que se enojam de Política e não se envolvem com a mesma comprometem-na! O espectador letárgico, anestesiado, impávido, extasiado, como preferirem, é pior que um brasileiro morto. Pois este não penaliza o sistema, não transfere discernimento e, por conseguinte, os destinos da nação a malfeitores, por um lado, ou a ignorantes, por outro lado. Enfatizo, os malfeitores da vida pública só existem porque existem os cidadãos malfeitores, os ignorantes da vida pública só existem porque existem os cidadãos ignorantes, aos milhões e milhões.

 Não somente ao Estado cabe a responsabilidade de fato de educar a sua gente. Não somente à família cabe a responsabilidade de fato de educar a sua gente. Não somente às instituições muito menos! Mas o Budismo brasileiro nem isso!

 A laicidade do Estado brasileiro é uma garantia constitucional de direito, não devendo descurar das cláusulas pétreas os apavorados de uma nação fundamentalista. No entanto, espaço que não entra luz, está a ausência de luz. É físico, é quântico.

 O Budismo brasileiro não pode ser pretensioso, achando que é a salvação do mundo, como outros. Todavia, não deve ser apelido de apatia da vida política. Deve mostrar a sua cara, deve colocá-la à tapa. Esta é a sanga nacional! 

 Fora da compaixão não há iluminação. Entramos no século do absurdo. O budismo, uma vez aclimatado, não pode ser insensível à política brasileira.  "Zen nada fazer é um abzurdo!" (sic) (letra s substituída na frase, além do trocadilho, em homenagem ao zen que pratico) Budismo que não é interdependente não é budismo. Ser interdependente é ser uno com o todo, é interagir, é interser. Budismo que não interage é o supra sumo do egóico, do egoísmo. Esse budismo não é budismo. 

 O budismo tem mil braços. O braço religioso é apenas um. O sábio não precisa de religião. O ser amoroso não precisa de religião. Budismo como religião é sobretudo espaço aglutinador de pessoas com questões emocionais, medos e inseguranças existenciais, como qualquer outra religião. Pessoas que precisam de um guia, ao contrário do que Buda falou, para quem o centro do universo está dentro de cada um. Não estou, com isso, invalidando as religiões derivadas do budismo. Como de resto, não estou invalidando as demais religiões, sejam quais forem. Contudo, não podemos também decepar os demais braços do budismo. A cidadania búdica é um braço do budismo que o Budismo brasileiro deve aprender a usar. Por enquanto só está lhe servindo para estupefações! Sidarta Gautama deixou de ser príncipe para ir ao encontro das misérias do mundo. Mirem-se nesse aspecto dele!

 Em meu artigo "Budismo como uma nova forma de atuação para uma ética mundial e brasileira", escrito e publicado na "Revista Triptaka", 2011, órgão oficial do "Colegiado Buddhista Brasileiro", enquanto membro do mesmo, defendo a tese do budismo participativo da vida pública nacional, estimulando os que se consideram budistas brasileiros a ingressarem em partidos políticos e a prestarem o seu contributo à nação. Inclusivamente, sugeri o Partido Verde, com o seu ideário mais próximo do que se poderia chamar de "ideário búdico partidário", obviamente não desmerecendo nenhum outro, a critério de cada um.

 Quando aceitei ingressar no "Colegiado Buddhista Brasileiro", a convite do "Monge Genshô" (Petrúcio Chalegre) escrevi igualmente um outro artigo, "Reflexões e metas, no Darma", esboçando a importância que eu dava ao colegiado, traçando algumas iniciativas para o próprio. Nada vi acontecer, nada presenciei ou pude participar. Estava iludido. O "Colegiado Buddhista Brasileiro" não é colegiado, é ditatorial. E por ser ditatorial não é budista. E não é sequer brasileiro. Até seu charmoso nome não é grafado em português. 

 Cônscio da necessidade do braço político ao budismo no Brasil e da diferença que ele pode qualificar na Política, criei, com a função despertadora, o "Partido Budista Brasileiro", como uma sua referência virtual inafastável à tão nova democracia brasileira. Democracia é pluralidade, democracia é diversidade. Todos os segmentos da sociedade devem estar representados. Temos uma tendência de acharmos que somos melhores do que os demais. Mas isso é uma ilusão. Os erros que vemos neles são os nossos erros. Os acertos que pensamos ser nossos são os acertos deles. Essa é a unidade. Não podemos ter chiliques de "não me toque" e pensar que na "política" o budismo não entra! Ele está lá, se queira ou não. Está de uma forma ridícula, medíocre, mas está! A política brasileira precisa dos princípios do budismo universal e muito mais!

 A Winston Churchill, a quem o mundo deve gratidão por não ter se aliado a Hitler e, por conseguinte, não ter possibilitado uma outra história à civilização humana, vale a autoridade do seu ensinamento, "a democracia é o pior regime de governo do mundo, exceto todos os demais"...

 O Budismo brasileiro conseguiu, mesmo com o seu perfil não proselitista do passado, hoje existe uma certa propaganda budista para encontros e refúgios pagos, diferentemente de doações espontâneas, evoluir até aos dias presentes. A novela da Globo, mais do que ninguém, mais do que todos os praticantes budistas juntos, fez a sua maior projeção, ainda que tecnicamente imprecisa. E, com isso, faz-se crescer o número de interessados ao budismo. Enquanto expoentes do budismo brasileiro se perdiam em discussões de caricaturas de budas gordinhos e magrinhos na telinha da tevê! Redimensionemos, portanto, a partir da Globo a importância grave, redobrada, a seus líderes atuais. Ao contrário do estrelismo, contraditoriamente antibudista, o budismo brasileiro deve seguir na trilha da humildade e da participação. É mister a sua reflexão, a reflexão de seu papel na sociedade brasileira. Talvez o "Colegiado Buddhista Brasileiro", ora na contramão, possa retomar o bonde da história e se reformar, na superfície e na profundidade. Exemplo dessa premência é a polêmica causada pela conversa aberta de um sábio, de um verdadeiro e admirável mestre, tornada pública, ensinando a necessidade de adequação do budismo a cada realidade nacional, a um monge da nação brasileira, ao revelar que ele próprio não havia cumprido os enumerados preceitos ritualísticos para recebimento e transmissão da linhagem de sua escola. E disse isso sorrindo, como sábio que é, como amante da verdade que seguramente representa, do verdadeiro Budismo, que está desde sempre adormecido em cada um de nós.

 O verdadeiro budismo é o não budismo. O verdadeiro mestre é o não mestre. O verdadeiro discípulo é o não discípulo. A verdadeira sanga é a humanidade inteira. O verdadeiro buda o amor universal. E não há o verdadeiro. E não há o falso. 

 Troquemos a fralda do budismo brasileiro. Jovens, atentem-se, não se submetam àquela história de "mestre e gafanhoto" para justificar caros finais de semana, comecem por destacar os mestres que vocês têm dentro de casa. Ajudem os seus vizinhos, melhorem as suas ruas, as suas comunidades, as suas cidades... E antes que o dia dê lugar à noite se perguntem qual é a sua verdadeira casa. E não se esqueçam, não há a verdadeira. Como não há a falsa!

 Como será o budismo no Brasil versão atual? Estamos em ano de Copa do Mundo. Segundo o deputado federal Romário, o jogador de futebol, "essa palhaçada vai piorar, o governo viabilizará as obras emergenciais que não precisam de licitações, fadados que estamos a assistir ao maior roubo da história desse país"... Estamos também em ano de Eleições. Eleições que elegerão o presidente e o vice-presidente da República, governadores e vice-governadores de Estado, senadores da República e respectivos suplentes, deputados federais, estaduais e distritais (Lei 9.504/97, art. 8º., caput). Eleições não tendo havido reforma política e com urnas eletrônicas vulneráveis, sem a impressão do voto... É de se observar ainda que os nossos políticos são os mais caros do planeta e para fazerem o que fazem.

 (RECL)AMAR, (RECLAM)AÇÃO! Em outras palavras, jovens budistas brasileiros, tirem um pouco "a bunda do zafu" e vão praticar cidadania. Esse exercício é tão importante quanto. Pensamento, fala e ação adequados. Zazen e não só!

 Brasil indignado: tenho dito! 
 
Flávio Marcondes Velloso, professor, escritor, membro da Associação de Direito e Economia Europeia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, do Instituto Pimenta Bueno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da União Brasileira de Escritores, fundador do Partido Budista Brasileiro, uma referência moral, virtual, autor de "Tribunal Internacional de Justiça. Caminho para uma Nova Comunidade", ISBN 85-86633-42-9 , de "Ensaios Jurídicos. Temas Inéditos", ISBN 85-86633-09-7, compreendendo "Direito de Ingerência por Razões Humanitárias em Regiões de Conflito. Corredores Humanitários", "Fidelidade Partidária, um Desafio à Democracia do Brasil", "Direito do Mar, Área, Partida para um Novo Direito Internacional", dentre outras publicações. Endereço eletrônico flaviomarcondesvelloso@gmail.com . Blogs  http://religionofthethirdmillennium.blogspot.com , http://budismonobrasil.blogspot.com , http://zennothingspecial.blogspot.com ... Escrito no Deer Park Monastery, de Thich Nhat Hanh, aos 05-01-2014, cidade de Escondido, Califórnia, Estados Unidos.

sábado, 29 de junho de 2013

Decálogo do Buddha Siddharta Gautama


PARA CANDIDATOS, GOVERNANTES E POLÍTICOS EM GERAL

1) Praticar a generosidade, a compaixão e a caridade. Governante, político, pessoa pública, homem ou mulher, não deve sentir avareza nem apego pela riqueza e muito menos pela propriedade, devendo colocá-la primeiramente para o bem-estar público.

2) Ter um elevado caráter moral, ético e praticar virtudes. Nunca deve destruir vidas, trapacear, roubar, explorar outros, dizer mentiras.

3) Sacrificar tudo pelo bem do povo. O governante deve estar disposto a sacrificar toda a comodidade pessoal, assim como o nome, a fama e, se necessário, a vida em benefício dos governados.

4) Honestidade e integridade no desempenho de suas funções, estar livre do medo e de todo favor, deve ser sincero em suas intenções e não enganar o povo.

5) Amabilidade e doçura. Deve ser afável com todos em seu trato.

6) Costumes austeros. Deve levar uma vida simples, não se deixar subjugar pelo luxo e deve praticar o auto domínio.

7) Ausência de ódio, de má vontade e de aversão. Não deve guardar rancor a nada.

8) Não violência. Significa não causar dano a quem quer que seja. E também esforçar-se, em suas obrigações, a promover a paz, evitando as guerras e tudo aquilo que implique a destruição de vidas.

9) Paciência, indulgência, perdão, tolerância, compreensão. Deve ser capaz de suportar, sem encolerizar-se, toda sorte de penúrias, dificuldades e insultos.

10) Não oposição e não obstrução. Significa que o governante não se deve opor à vontade do povo nem obstruir nenhuma vontade que tenda ao bem-estar da população. Deve, em outras palavras, governar em harmonia com o povo.


Fonte: "What the Buddha Taught",
Walpola Rahula, USA, Grove/Atlantic Press, 1959, 1st edition. This indispensable volume is a lucid and faithful account of the Buddha's teachings. For years, says the Journal of the Buddhist Society, the newcomer to Buddhism has lacked a simple and reliable introduction to the complexities of the subject. Dr. Rahula's What the Buddha Taught fills the need as only could be done by one having a firm grasp of the vast material to be sifted. It is a model of what a book should be that is addressed first of all to "the educated and intelligent reader. Authoritative and clear, logical and sober, this study is as comprehensive as it is masterly.